sábado, 29 de março de 2008

Do início da colonização ao Período Imperial

A colonização do Piauí tem raízes comuns com a atividade pecuarista, estando a pecuária para o Piauí assim como o café para São Paulo ou o açúcar para Pernambuco. A criação de gado vacum e cavalar abre caminho para uma ocupação efetiva do elemento branco na segunda metade do século XVII. Grande parte do gado piauiense era proveniente das margens do São Francisco, trazido pelos homens da Casa da Torre, grupo de estradistas baianos interessados em encontrar melhores pastos para o seu gado. Seus principais membros eram Francisco Dias D´avila, Domingos Rodrigues de Carvalho e Domingos Afonso Mafrense (também conhecido como Domingos Afonso Sertão). O último deles é visto por muitos historiadores como o primeiro colonizador do Piauí. Os homens da Casa da Torre receberam sesmarias nas regiões dos rios Gurguéia, Piauí, Canindé e Parnaíba e ao falecer em 1711, Mafrense deixou uma espetacular herança aos jesuítas no Piauí: 29 fazendas de gado, que passaram ao controle da coroa e mais tarde com a independência, tornaram-se Fazendas Nacionais. Além de Mafrense, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho divide as opiniões a respeito de quem teria sido o primeiro colonizador da terra piauense. Acredita-se que por volta de 1662/63 tenha chegado à bacia do Poti, no povoado catinguinha (atual Valença). Foi o primeiro proprietário de terras na região da barra do Poti. Teria ficado no Piauí pelo espaço de 24/25 anos, de onde saiu, acompanhado de índios tabajaras e cupinharões para o cerco ao Quilombo de Palmares.
O território piauiense já foi subordinado administrativamente ao Maranhão, que por sua vez era subordinado ao Grão Pará; judicialmente à Bahia e episcopalmente a Pernambuco, o que capacitava qualquer um dos governantes de cada uma destas localidades a conceder sesmarias em território piauiense.
Ao iniciar-se a colonização do Piauí, houve em um primeiro momento, os conflitos entre colonizadores e nativos pela posse de terras e num segundo momento, entre os posseiros(agregados que trabalhavam nas terras e deviam tributos aos sesmeiros) e os sesmeiros(donos oficiais das terras, por força de cartas de doação sesmariais).
Deve-se entender que o povoamento do branco no Piauí é um despovoamento do nativo, onde esses grupos, divididos em 7 nações indígenas que se subdividiam em centenas de tribos foram violentamente combatidos e quase que completamente dizimados na guerra de extermínio. As nações indígenas no Piauí eram os acroás(divididos em 64 tribos); tremembés(60); gueguezes(16); timbiras(11); jaicós(4); tabajaras(2) e pimenteiras(1 tribo). Considerando-se uma população média de 2000 indivíduos em cada tribo, somavam-se aproximadamente 316 mil nativos em nosso território. O apoio da Igreja na catequização e no trabalho nos aldeamentos foi indispensável para a vitória dos colonos sobre os silvícolas do Piauí. Porém, a excessiva violência contra os nativos impulsionou o movimento liderado por Mandu Ladino, que reuniu sob seu comando membros de diversos grupos e que durante alguns anos(1712-1718) aterrorizavam fazendeiros nos territórios do Maranhão, Piauí e Ceará.
As disputas entre posseiros e sesmeiros pela posse efetiva das terras destinadas às fazendas e sítios do Piauí duraram cerca de um século segundo alguns pesquisadores, ao final os posseiros foram beneficiados com o arbítrio do governador do Grão-Pará, que decidiu que as terras deveriam pertencer a quem efetivamente as havia povoado.
A colonização ia se desenvolvendo contando praticamente com a ação de particulares até que em 1759 se dá a chegada de João Pereira Caldas, primeiro governador piauiense, que chega à Vila da Mocha no dia 20 de setembro. Cria órgãos fundamentais para a administração, como a secretaria de governo, mas se notabiliza pela elevação de certos povoados à condição de Vila (Parnaíba, Campo Maior, Valença, Marvão, Jerumenha e Parnaguá) além da Mocha, que passa a denominar-se Oeiras e ser a capital da capitania. Além disso, fez um recenseamento da população e cumpriu a ordem vinda da metrópole de expulsar os jesuítas do território piauiense. Governou até 1768, sendo substituído por Gonçalo Botelho, que ficou conhecido como um governador de uma só obra, um serviço mensal de correio que ligava a capital às vilas da capitania. Promoveu um intenso ataque ao gentio, principalmente aos pimenteiras, sendo representado por João do Rego Castello Branco, imortalizado no poema “El Matador” que era um preador rude e feroz.
O Piauí foi governado por uma grande quantidade de juntas governativas durante o período colonial, o que contribuiu para a falta de continuidade das ações governamentais necessárias ao seu desenvolvimento, já que as juntas de governo eram continuamente renovadas, impedindo qualquer articulação visando resultados a médio e longo prazo.
Por conta da Independência proclamada por Dom Pedro I em 1822, organizaram-se no Piauí grupos interessados na idéia da independência política, sendo os mais importantes politicamente os de Parnaíba(Simplício Dias da Silva, João Cândido de Deus e Silva) e o de Oeiras(liderado por Manuel de Sousa Martins, futuro Barão da Parnaíba) que tiveram que burlar a vigilância do Major português João José da Cunha Fidié, governador das armas do Piauí, que segundo historiadores piauienses, foi enviado por Dom João VI para garantir a Portugal a posse da parte setentrional do Brasil, sendo que para isso, a manutenção do Piauí, como importante fornecedor de carne e corredor de imigração era imprescindível.
Em 19 de outubro de 1822 Parnaíba é a primeira localidade piauiense a apoiar a idéia de independência do Brasil, proclamando a “independência do Piauí e sua união com Portugal”.

Manuel de Sousa Martins (1767-1856)




Quando Fidié e seus homens chegam á vila para sufocar o movimento, seus líderes estavam refugiados em Granja(Ceará). Enquanto isso, as forças de Leonardo das Dores Castelo Branco organizavam-se e no dia 23 de janeiro de 1823 proclamavam a independência em Piracuruca. No dia seguinte, aproveitando-se da ausência de Fidié, que ainda voltava de Parnaíba, Manuel de Sousa Martins e seus homens tomaram a Casa da Pólvora em Oeiras e proclamaram sua adesão à independência. Ao saber do ocorrido Fidié parte para Oeiras, mas no meio do caminho é obrigado a enfrentar as forças formadas por piauienses e cearenses em Campo Maior: era a Batalha do Jenipapo(13 de março de 1823).
Liderados por Luís Rodrigues Chaves, as tropas independentes enfrentaram os homens de Fidié no leito seco do riacho jenipapo, numa luta ininterrupta de cerca de 5 horas. No calor da batalha a bagagem de guerra de Fidié é extraviada pelos cearenses, o que impossibilita o militar português de continuar a combater os independentes, indo se refugiar na região do Estanhado(atual União) e de lá seguiu para Caxias, onde foi definitivamente derrotado por maranhenses, piauienses e cearenses, sendo remetido para o Rio de Janeiro de lá para Lisboa. O povo teve participação decisiva na Batalha do Jenipapo, mas quem colheu as benesses da vitória foram outros grupos.
Após isso, Manuel de Sousa Martins dirigiu com mão de ferro os destinos da província por cerca de 20 anos, tendo de enfrentar o poderoso movimento que ficou conhecido como Balaiada, que também atingiu as terras do Piauí entre 1838 e 1841. Composto por membros da elite e também por populares, a Balaiada piauense era contrária à continuação do governo do Barão da Parnaíba, a lei dos prefeitos e o recrutamento forçado. Os rebeldes tinham planos de ocupar Oeiras, mas falharam em seu objetivo. O Barão foi o mais ferrenho defensor da “ordem” no Piauí durante o conflito. A revolução de Parnaguá foi um fato ocorrido dentro do contexto da Balaiada, porém com uma conotação claramente política, já que os Aguiar de Parnaguá eram inimigos políticos do Barão da Parnaíba.
Após a Balaiada, o grande acontecimento de destaque na província foram as discussões que culminaram com a mudança da capital de Oeiras para Teresina. Essa idéia não partiu do Conselheiro Saraiva e vinha ainda do século XVIII, proposta pelo governador do Maranhão, João da Maia da Gama, que preferia a região da barra do Poti. Durante os séculos XVIII e XIX falou-se na barra do Poti, na cidade de Parnaíba e na confluência do Mulato com o Parnaíba, na atual localidade de Amarante. Saraiva então inicia grande campanha de convencimento das vantagens que seriam alcançadas com a mudança de capital, porém os políticos de Oeiras mostram-se irredutíveis. Trabalha então, para eleger uma maioria governista nas eleições provinciais e consegue a aprovação da lei que permitia a mudança da capital para a região do Poti.
Alegando a insalubridade da região da Vila do Poti – atual Poti Velho – Saraiva muda a sede da futura capital para uma região distante a uma légua desta, a Chapada do Corisco, que passa a ser conhecida como Vila Nova do Poti e após isso Teresina, primeira capital planejada do país, que nascia voltada para o Rio Parnaíba e nascia sob o signo do progresso, visando aproveitar o potencial de navegação do Rio Parnaíba, além de buscar-se desenvolver uma agricultura nas terras férteis da região, tomar da cidade de Caxias(MA) a hegemonia do comércio na região, instalar a capital em uma localidade menos isolada do que Oeiras etc. Em 1859 é criada a Companhia de Navegação do Rio Parnaíba, sendo cedido a ela o vapor Uruçuí, construído sob solicitação do presidente João José de Oliveira Junqueira, que ficara pronto no mesmo ano e custara 48:000$000. Essa navegação compreenderia a capital e Parnaíba, tocando as localidades de União, Luzilândia e outras que a Cia julgasse conveniente. Transportava produtos primários para a Europa e trazia produtos industrializados, que seriam redistribuídos a partir de Teresina, tornando-a o maior pólo de comércio da região.
Em Fevereiro de 1865 chega à capital a notícia de que o Brasil se batia em guerra contra o Paraguai desde o último dezembro, sendo enviados rapidamente 1160 homens da Guarda Nacional para o palco de guerra, além dos “voluntários da pátria”. O esforço de guerra na província ficou a cargo de seu presidente à época, Franklin Dória, futuro Barão de Loreto. Ao todo, o Piauí chegou a mandar aproximadamente 4mil homens ao Paraguai, sendo que diversos piauienses foram citados por atos de bravura e participaram de todas as batalhas principais do conflito. Dentro daquele contexto, surgiu Jovita Alves Feitosa, cearense que morava na Vila de Jaicós, que se dirige ao Rio de Janeiro disfarçada de homem com o objetivo de combater no Paraguai. É descoberta e impedida de embarcar. Pouco tempo após, suicidou-se naquela cidade.
Em 1880, durante a presidência de Firmino de Sousa Martins, o quarto naquele ano, houve a permuta de territórios entre o Piauí e o Ceará, envolvendo do lado piauiense as localidades de Príncipe Imperial (atual Crateús) e Independência e Amarração (atual Luís Correia) pelo lado cearense. O governo piauiense buscava aumentar seu litoral, de aproximadamente 24 para os 66,6 km atuais, desde aquela época já se cogitava a construção do sonhado Porto de Luís Correia.
Os movimentos republicano e abolicionista caminharam juntos no Brasil do século XIX, sendo que o episódio do Coronel Cunha Matos ligava diretamente o Piauí às questões militares que retiraram o apoio dos militares ao Império, o anticlericalismo já possuía certa influência no meio intelectual piauiense, formado praticamente inteiro na Faculdade de Direito de Recife, e a campanha abolicionista viu surgir aqui sociedades abolicionistas como a de Barras, Teresina, Luís Correia e Jaicós, sendo que já em 1884 não havia mais escravos nesta última localidade.
David Caldas(1836-1878) que ficou conhecido no Piauí como o “Profeta da República” era um dissidente do Partido Liberal, principal defensor do republicanismo no Piauí, fundador dos jornais “ O Amigo do Povo” que ao completar 89 números foi rebatizado de “Oitenta e Nove”, além desses, publicou ainda “O Ferro em Brasa” em papel vermelho. Era ferrenho defensor da república e morreu sem ver seu sonho realizado, sepultado do lado de fora dos muros do Cemitério São José, por determinação de figuras influentes da política piauiense. É patrono da cadeira número 4 da Academia Piauense de Letras.
A notícia da República chega ao Piauí no dia seguinte à sua proclamação no Rio de Janeiro, nessa mesma noite é formado um governo provisório composto pelos capitães Reginaldo Nemésio de Sá e Nelson Pereira do Nascimento, além do Alferes João de Deus Moreira de Carvalho, que depõe o presidente em exercício, Lourenço Valente de Figueiredo. Gregório Taumaturgo de Azevedo (militar) é o primeiro governador piauiense em sua história republicana.

2 comentários:

Rafaelly Palhano disse...

Essa foto é simplesmente linda e esse "resumo" vai salvar a vida de muita gente.

Rafaelly Palhano disse...

Espero que você siga em frente com este blog, pois a causa é muito nobre.